quinta-feira, 13 de setembro de 2012

UM BREVE ADEUS


“Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós...”

Essa frase resume perfeitamente a sensação e a emoção do que é o Rondon. A grande riqueza do projeto está nas pessoas, pois é com elas que aprendemos as maiores lições.
Carlos Drummond de Andrade disse certa vez que o indivíduo que teve a ideia de cortar o tempo em fatias, que são os anos, é uma pessoa genial, pois com essa percepção do tempo o ser humano consegue renovar as esperanças. Creio que mesmo esse gênio sentiria muita dificuldade para conseguir definir a percepção do tempo participando do Rondon, pois isso é algo quase impossível em função da intensidade com que tudo acontece. Dezoito dias passaram como dezoito segundos, mas que sem dúvidas foram os dezoito segundos mais intensos das vidas de muitos de nós; “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem, por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.” 

Talvez por compartilharmos o mesmo ideal, ou quem sabe por afinidades, por lucidez ou mesmo por loucura, afirmo que é possível construir uma família em meros 18 dias. Para alguns, uma família de loucos, para outros, a família ideal... A família Rondon!
É com o sentimento de missão cumprida e de ser integrante de uma nova família, que encerramos nossas atividades em Itacajá. Mais do que ensinar, aprendemos muito nessa missão; experiências trocadas, lições de autoconhecimento, lições de humildade, lições de intensidade em ser humano...
Embora nossos caminhos possam nunca mais se cruzar, no fim, tudo que foi bom, verdadeiro, tudo que realmente nos fez bem, permanece!
E se um dia me perguntarem: Você seria rondonista novamente? Eu responderei: UMA VEZ RONDONISTA, SEMPRE RONDONISTA.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES EM ITACAJÁ


A recepção que tivemos da população de Itacajá foi extremamente positiva. Um povo humilde, mas extremamente batalhador e acolhedor.
Foi tomado de muita emoção que ocorreu o evento de encerramento das nossas operações na cidade. Realizamos junto com as crianças uma pequena apresentação de teatro e danças, que foram ensaiadas no decorrer das semanas que estivemos na cidade.




Após o encerramento, o choro tomou conta de todos; uma mistura de “não vá embora” e “volte logo”. Foi difícil conter as emoções ao ver os rostinhos daquelas crianças com as quais convivemos por pouco tempo, embora intensamente, pedindo para que não partíssemos.


Apesar dos muitos quilômetros que nos separam, temos certeza de que todos aqueles que fizeram parte das nossas vidas durante o projeto, permanecerão constantemente em nossas memórias pelas lições que nos ensinaram, e em nossos corações, por nos permitirem participar de suas vidas.





COZINHEIRAS


A grande maioria de nós rondonistas foi preparada para enfrentar muitos perrengues, principalmente no que diz respeito à alimentação. Contudo, para nossa alegria, fomos surpreendidos pelas maravilhosas pessoas que nos aguardavam para preparar nossas refeições: Lú e Izabel.


Com suas mãos divinas, essas amáveis mulheres nos preparavam um verdadeiro banquete a cada refeição servida.
Independentemente do horário em que sairíamos ou chegaríamos, lá estavam elas, sorridentes nos dando cobertura. Tivemos a oportunidade de experimentar muitos pratos típicos da região, como o chambarí (carne com molho), cuscuz com óleo de coco, mangulão (broa de polvilho), paçoca de carne seca, sucos com frutas nativas e muitos bolos maravilhosos.
Mais alguns motivos para sentirmos saudades de Itacajá, as duas queridas cozinheiras e as comidinhas caprichadas feitas por elas.


VISITA ÀS COMUNIDADES DONZELA E BOA SORTE


Fizemos duas visitas a comunidades praticamente isoladas pertencentes ao município de Itacajá, comunidade Donzela e comunidade Boa Sorte.
A comunidade Donzela fica a aproximadamente 60km de Itacajá, enquanto a comunidade Boa Sorte fica um pouco mais próxima, cerca de 40 km, contudo em locais de difícil acesso.


Em sua maioria, as casas das comunidades são de pau-a-pique; as paredes são estruturas de bambú, amarradas com cipó e preenchidas com barro e o teto é coberto por folhas de palmeiras trançadas. Essas casas não têm acesso à água encanada, muito menos saneamento básico e a população de ambas as comunidades vivem em situação de extrema pobreza.


Nessas comunidades foram realizadas oficinas de artesanato com o reaproveitamento de caixas de Tetra Pack, oficina de aquecedor solar, curso de informática, cuidados com a saúde da mulher, profissionalização do artesanato, além de aferição de pressão arterial e glicemia.


Enquanto as oficinas aconteciam com os mais velhos, as crianças participavam de atividades lúdicas com outros rondonistas. Um momento marcante foi quando foram distribuídas entre as crianças algumas simples bolachas... Parecia que tudo que havia de melhor no mundo estava sendo dado a elas naquele momento.



As escolas das comunidades são multiseriadas, ou seja, existem alunos de diversas faixas etárias cursando séries distintas na mesma sala de aula, fato que compromete o rendimento e o aproveitamento do ensino. Essas crianças provocaram grande comoção, pois seus olhares profundos nos indagavam sobre qual serão os seus futuros.


COZINHA BOA


Umas das oficinas mais procuradas foi indiscutivelmente a COZINHA BOA. Nela ensinamos o reaproveitamento de alimentos que até então iriam para o lixo.
Embora a grande maioria de inscritos para essa oficina fossem mulheres, e de uma forma geral, com grande experiência na cozinha, muitos jovens, inclusive meninos participaram ativamente da oficina.
Foram ensinados pratos doces e salgados, como o docinho de casca de abacaxi, bolinho de arroz e bolo de casca de maçã.


terça-feira, 31 de julho de 2012

CINE RONDON


Em função da estrutura montada para o  Rally das Águas, realizamos nossas sessões de cinema na praia da orla sob tendas localizadas na areia do rio Manoel Alves.
Somando a localização do Cine Rondon com a temperatura das noites de Itacajá, as nossas sessões de cinema sempre foram bastante procuradas, principalmente pelas crianças.
Em uma das noites contamos com a ilustre presença do Capitão-de-Mar-e-Guerra Guimarães.


RALLY DAS ÁGUAS


O Rally das Águas é o maior evento da cidade de Itacajá e região. Ele acontece anualmente, e esse ano foi realizado a sua 12º edição.
Para nossa sorte, o rally foi concomitante com a nossa estadia em Itacajá e é claro que não perdemos a oportunidade de participar desse evento tão aguardado pela população local.



Engana-se quem pensa que vence o rally quem chega primeiro. Na verdade o rally é uma festa que acontece sobre as águas do rio Manoel Alves Pequeno. São balsas, barcos, bóias e colchões de ar que descem durante 6 horas, cerca de 10km do rio, até a orla da praia de Itacajá. As balsas são estruturas metálicas sobrepostas sobre grandes galões de plástico. Elas vão abarrotadas de pessoas, som, churrasqueiras e muita farra.



Andamos cerca de 10km de estrada de chão até o local de partida do rally. Antes da largada fizemos um pequeno mutirão de limpeza na margem do rio. Nesse meio tempo, pessoas e mais pessoas vinham chegando com seus apetrechos para descer as corredeiras.


Como alguns integrantes do grupo participaram do evento descendo o rio nas bóias, foram na balsa e consigo levaram a comida e a bebida de quem desceria o rio nas bóias.
O problema é que não sabíamos que as bóias e as balsas não desciam as corredeiras juntas por questões de segurança, ou seja, alguns rondonistas ficariam quase seis horas dentro do rio, sob um sol escaldante, sem comer ou beber absolutamente nada.



Mal o rally começou e tivemos uma grata surpresa, aliás, gratas surpresas. Vendo o despreparo dos novatos para aguentar a extenuante descida do rio, muitos moradores de Itacajá, que participaram de nossas atividades na semana anteriores e até mesmo turistas que nos reconheceram em função das camisetas do Projeto Rondon, fizeram nos sentir no paraíso. Era comida, bebida e claro muitas risadas de todos os lados.



Quem se imaginaria sobre uma bóia, comendo com as mãos arroz com carne seca, numa tampa de tupperware? E a coisa não parou por ai! Camarão ao bafo, filé com farofa, Maria Isabel (arroz cozido com feijão), vina, azeitona, salame, paçoca (espécie de farofa de carne seca com farinha mandioca) e muitas outras comidinhas peculiares. Onde passávamos éramos reconhecidos e acolhidos.
Depois de 6 horas, enfim chegamos a orla da praia de Itacajá. Esse foi um dia muito marcante para todos nós, tanto pela experiência de participar de um evento tão incomum, quanto pela hospitalidade do povo tocantinense.



Recepção da população na chegada do Rally das Águas


MOMENTOS DE DIVERSÃO


Depois de um dia cansativo de atividades sob uma temperatura média de 37º, só uma coisa consegue resfriar a temperatura do grupo; um banho no rio Manoel Alves Pequeno. Para nossa sorte, o rio fica muito próximo da escola na qual estamos alojados... Quase todo final de tarde é a mesma coisa: colchão de ar e muitas risadas.




segunda-feira, 23 de julho de 2012

VISITA À ALDEIA DOS KRAHÔ


A visita à aldeia dos índios Krahô era um dos momentos mais aguardados por todos nós, desde o início do planejamento do projeto.
Partimos cedinho para a aldeia Manoel Alves, que é uma das mais próximas da cidade na qual estamos alojados. Fomos recepcionados por um grande número de índios, em sua maioria kraés (crianças no idioma krahô).




Desenvolvemos algumas atividades recreativas com as crianças, seguidas da oficina de aquecedor solar e outra sobre a importância da reutilização de materiais recicláveis para os mais velhos, na qual foi ensinado o desenvolvimento de uma vassoura com garrafas pet. Os rondonistas da Unitau ficaram com a parte de saúde; teste de glicemia, aferição da pressão e demais orientações.




Um dos momentos mais marcantes foi quando fomos pintados pelos índios. A tinta usada é à base de jenipapo (cor escura) e urucum (cor avermelhada) e cada desenho carrega consigo uma simbologia.




Acompanhamos também a apresentação do cantor da tribo. Com uma melodia instigante e misteriosa, característica dos krahôs, os rondonistas seguiram em coro o índio cantor.


Tivemos o prazer de conhecer o Hotxuá, o palhaço sagrado da tribo. Ele é o índio Ismael, uma pessoa muito bem humorada e simpática. Ismael nos levou até sua oca e contou-nos como foi a participação da tribo no documentário dirigido por Letícia Sabatella, HOTXUÁ (www.hotxua.com.br). Contou-nos também sobre suas pretensões para ajudar na divulgação da cultura Krahô, como a criação de camisetas e livros.



Apesar de manterem seus traços culturais, a aldeia conta com escola, serviço de telefonia pública, assistência médica e alguns índios já cursam o ensino superior.
A visita à aldeia foi um dos momentos mais marcantes até o momento, tanto pela troca de informações, quanto pela diversidade cultural.


VISITA DO CAPITÃO GUIMARÃES


Tivemos a honra de receber a visita do Capitão-de-Mar-e-Guerra, Alexandre Guimarães, oficial militar responsável pelo projeto Rondon.


Além de participar de algumas de nossas atividades, pudemos conversar e discutir diversos assuntos. É de suma importância essa aproximação entre a coordenação do projeto e a realidade, tanto da comunidade, quanto dos rondonistas.

MÃOS À OBRA


As atividades foram desenvolvidas com muito sucesso durante a semana. Sem dúvidas a procura maior foi das crianças, mas os adultos também compareceram em peso.


Logo na segunda feira, fizemos uma atividade denominada MULTIRÃO DA LIMPEZA. Nessa atividade, além de limparmos uma das principais ruas da cidade, divulgamos todas as atividades previstas, inclusive nossas sessões de cinema.





Todos os rondonistas puderam por em práticas algumas de suas atividades, dentre elas, as que tiveram mais procura foram as oficinas de informática, de criação de jornal impresso, auxílio na profissionalização do artesanato e o curso de libras. Outras atividades realizadas foram oficina de composteira, noções de economia, plantação saudável e informações sobre direitos e auxílios governamentais, além das atividades desenvolvidas pelos colegas da UNITAU.


INTEGRAÇÃO PUCPR E UNITAU


A integração entre os alunos da UNITAU (Universidade de Taubaté) e da PUCPR foi bem rápida. Como as duas equipes são muito “musicais” foi criado um único nome para que pudéssemos além de unir definitivamente nossos grupos, entoar juntos nossos gritos de guerra e a as nossas musicas - PUCTAU.


♫ PUCTAU ficou legal, PUCTAU ficou legal! ♫
♫ Eu quero ir, eu quero já, eu quero ir para ITACAJÁ! ♫






quarta-feira, 18 de julho de 2012

DE PALMAS PARA ITACAJÁ


No domingo saímos cedo de Palmas rumo à cidade de Itacajá. Cerca de 300 km separam as duas cidades, desses, aproximadamente 70 km são de estrada de chão. No ônibus, além dos rondonistas da Tuiuti e da Unifenas, estavam conosco os alunos da Unitau, nossos companheiros de operação. Foram carregados diversos colchões, muita água, sucos, refrigerantes e o nosso “catanho”, gíria utilizada para definir lanche aqui no Tocantins, pois não poderíamos parar para almoçar devido aos nossos companheiros de viagem terem que seguir por mais algumas centenas de quilômetros após nos deixarem em Itacajá.



A paisagem era praticamente imutável; cerrado, calor e dentro do ônibus, claro, além de fotos, muita farra. O repertório foi o mais variado: de Padre Marcelo à tchu tcha tcha.
Chegamos em Itacajá no meio da tarde. Descarregamos todas as nossas bagagens na praça em frente ao colégio que nos serve de base, o Colégio Estadual Itacajá.


Fomos recepcionados pela primeira dama, que logo possibilitou nossa instalação nas dependências do colégio. Devido ao período de férias, foi necessário que fizéssemos um mutirão de limpeza para retirar o pó que se acumulou durante esse período.

Nosso dia terminou com um jantar na orla de Itacajá, convite feito pelo prefeito. Pudemos experimentar mais algumas delícias do cerrado, como o suco de cajá, muito delicioso por sinal. Experimentamos também a buchada, o chambari (carne no molho que lembra o músculo), e o tambaqui assado. 


Para muitos de nós o Rondon seria uma forma de fazer um regime forçado, contudo, pelo que pudemos perceber, será um período de engorda forçada, afinal no quartel comemos muito bem e com muita frequência, e pelo que tudo indica aqui em Itacajá não será diferente.